quarta-feira, 20 de março de 2013

Sexualidade e Psicologia - Letícia dos Santos Barbosa

O caráter traumático da sexualidade1
Heitor O'Dwyer de Macedo


Todos vocês, sem exceção, daqueles que começaram este ano seus estudos de Psicologia aos que os terminam no final deste ano, estarão em pleno apogeu profissional no próximo milênio.
No último século, a reflexão sobre a relação terapêutica transformou-se de maneira radical e, com ela, o lugar do psicólogo no universo de saúde mental. Em todos os lugares do primeiro mundo o psicólogo já compartilha com os médicos a responsabilidade e o poder de decisão nas orientações do trabalho institucional. Por outro lado, no nível dos consultórios privados a prática dos psicólogos afirmou-se e recebeu o reconhecimento das autoridades de tutela. Isso foi conseqüência de um imenso trabalho tanto teórico quanto político que cada geração tem de retomar por sua conta. Neste trabalho, a psicanálise teve um papel preponderante, reconhecendo nos psicólogos os agentes capazes de responder às exigências transferenciais do encontro com o inconsciente, reafirmando, com Freud, o caráter não médico da prática da psicanálise.
É evidente que este estado de coisas é de uma exigência máxima. Tanto mais quando se vive no Brasil, onde as questões sociais, o estado das instituições de saúde mental e o lugar dos psicólogos neste mesmo universo de saúde mental requer um trabalho de grande tenacidade.
Sou um psicanalista que vive faz trinta anos em Paris. É na perspectiva de poder ajudá-los a refletir sobre estas questões, a partir da minha experiência, que os convido a dividir comigo hoje um certo número de interrogações.
Vocês sabem que a grande descoberta de Freud, o inconsciente, é solidária do reconhecimento da sexualidade infantil. O escândalo de uma tal afirmação para o pensamento é sempre atual e, vez por outra, podemos ler aqui e ali as reações violentas dos bedéis do pensamento que gostariam de impedir que tais questões existissem na nossa cultura. Não menos estranha é a posição adotada por certos psicanalistas ou psicólogos que fazem como se a questão da sexualidade e suas conseqüências para o humano fossem de uma grande simplicidade. Foi por isto que pensei trazer para vocês uma descrição daquilo que ocorre no mundo psíquico de um bebê para que a sua sexualidade seja harmoniosamente integrada à sua realidade interna. E a importância do meio ambiente para que tal integração se faça.
Um bebê é amamentado. A mãe lhe dá o seio. Este seio, ao mesmo tempo que lhe dispensa alimento, é aquilo que o excita e aplaca esta excitação. Sobre a experiência de amamentação espraia-se uma experiência sexual - esta é a descoberta freudiana. O seio é, ao mesmo tempo, fornecedor de leite e prazer. Para Freud, este prazer é um prazer sexual. O seio é um objeto sexual, um objeto da pulsão sexual.
Agora vejam bem. O bebê tem dificuldade de reconhecer que o objeto da pulsão, o seio, pertence à mãe total, a que cuida dele. Se o bebê não quer perder nem uma nem outra destas experiências, para ele é difícil aceitar que ambas tem a mesma fonte, o mesmo suporte. A mãe em boa saúde psíquica não fica assustada com esta situação. Ela oferece o objeto da pulsão (o se

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